Enchi a mala de versos e ganhei a estrada
Parti em busca do sonho de todo o poeta:
"Encontrar o lugar onde nasceu a poesia".
Cruzei sangas, me fiz rio, ganhei o mar,
Naveguei oceanos em barcos de papel
Venci as cachoeiras das tintas dos tinteiros
Penerei, por farra, toda a areia dos desertos,
Fui madeireiro e, de machado em punho,
Abri clareiras nas florestas mais cerradas
Ganhei o nada na intenção de ter o tudo;
Voei, tão alto, bem mais alto que podia
Por entre as nuvens, vi o sol brilhar de cima,
Pintei de rimas cada estrela que caía,
Por ironia, em preto e branco o meu retrato;
Busquei o fato onde haviam só rumores
Morri de amores pra renascer em poesia...
Troquei o dia pelas noites mal dormidas
Fui despedidas contra o brilho das chegadas...
Domei os ventos na intenção dos temporais
Tornei possível os impossíveis reencontros
Plantei ocasos nas auroras matutinas...
Fiz vespertinas minhas dores derradeiras;
Sou a fronteira entre o certo e o errado
Fui consagrado o corpo santo da paixão
Sou a razão na plenitude do descaso
Sou eu o vaso de onde jorra a ilusão;
Voltei tão triste que chorei de alegria
Pois a poesia não tem casa nem lugar
Ela habita o inconsciente dos poetas
Tem hora certa pra enfim se derramar...
É, as vezes me pego assim,
Olhando muito mais pra mim
Do que pra sorte a minha volta
Querendo muito mais ter
Do que apenas ser ou estar...
Porque será que me escondo
Por detrás desses espelhos?
Será que penso que o seu aço
Vai proteger-me dos abraços
Que alguém guarda pra mim?
Como eu queria ser diferente
Menos triste, mais consciente...
Poder ver além dessas vidraças
Enxergar o que se passa
Entre o dar e o receber...
Ser feliz – todos queremos
Mas e a felicidade dos outros?
O que fazemos por ela,
Olhamos pela janela
Escondendo-se nas sombras?
Por acaso levantamos
Aqueles que estão estendidos?
E aqueles que estão perdidos
Será que, por acaso, os guiamos?
Não, eu já tenho os meus problemas
E eles são bem maiores do que os dos outros.
Como poderia eu, querer levantar alguém
Se aqui me encontro caído
Perdido das minhas virtudes
Economizando atitudes
De querer e fazer o bem!
DOIS MISSIONEIROS - Eu, Omar e Nilton
A lança espelha a guitarra,
O lunar se faz garganta...
Dois tempos, sentando as garras
No lombo forte do pampa.
Unindo as trilhas da história
Dois tauras, mesmas verdades...
Pra um povo que tem memória
Se abraçam na eternidade!
Estradas que se confundem
Essência, cerne, bravura...
Idéias que não sucumbem
Ao fio das dores mais puras.
Honrando a Cruz Missioneira,
Sacrossanta identidade...
Criando o mais belo poema
Que já semeou liberdade.
“-Esta terra tem dono!”
O grito ainda ressoa...
E encontra o canto dos livres
Nos hinos que o povo entoa!
Um mundo por construir,
Unindo na mesma fé
A alma de Cenair
E o coração de Sepé!
Se a terra está mais vermelha
Do sangue herói combatente,
Usou a mesma centelha
Pra forjar outro valente!
As duas vozes se ergueram
Ganhando céus e paixões
E vivas permaneceram
No ventre das Reduções.
Apenas dois missioneiros
Em dois tempos diferentes...
Um cantor, outro guerreiro
Peleando na mesma frente!
Duas histórias que encantam,
Maiores que paz e guerra...
Mostrando que as águas cantam
O mesmo sonho da terra!
DECLARAÇÃO DE AMOR AO RIO GRANDE
Eu recebi por email esse texto do Arnaldo Jabor - e resolvi dividir com meus amigos do blóg - se a gente tem uns "moradores do Rio Grande" que não valorizam nossas coisas - pelo menos tem o resto do Brasil pra nos orgulharem. Toma!
Pois é.
O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e exclamam 'que horror'.
Sabem do roubo do político e falam 'que vergonha'.
Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.
Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem 'que baixaria'.
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto! Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.Do ressentimento passivo à participação ativa'.
Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.
Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.
Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!
'Como a aurora precursora / do farol da divindade, / foi o vinte de setembro / o precursor da liberdade '. Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado.
Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo, RJ, Brasília...
Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é...
Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão em participação ativa?
De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.
Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa 'liga'. A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.
Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda:
'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'
Arnaldo Jabor
QUANDO ME OLHARES
Esta noite eu olhei e vi
A imagem mais linda
Que o campo trouxe pra mim,
Vi com olhos de calma
Com outro jeito de ver,
Olhar de alma e de noite
De paz, luz e luar,
Eu vi com olhos de vida
O que a vida tem pra me dar...
As nuvens, tal qual um manto
Bordado por sobre a paz
Que habita a vida no campo
E a tua lembrança me traz
Relíquias de pontezuelas
Num céu pontilhado de estrelas
Com aroma de jardim,
É assim que vi a vida
E o que ela guarda pra mim...
A copa daquele arvoredo
Desvendou-me os segredos
Que tu guardavas enfim;
Sem saber que na silhueta
Sombreada de madrugada
Refletia nas aguadas
Dos espelhos dos teus olhos...
Me olhavas e não me vias
Desse par de olhos escuros;
O que era pra enxergar
Ficava bem lá...no futuro;
Busquei em cada fragrância
Que só o campo produz;
Embriaguei-me de luz
E do cheiro da maçanilha,
Do palheiro a figuerilha
Pra nossa vida na estância.
Habitei-me em ti
Para sonhar-te em mim
E entendi com alegria
Que a vida é poesia
Se for vivida assim...
Por isso quando me olhares
Não olhes com olhos pra perto...
Olhes pra além dos confins,
Olhes com olhos de alma...
Olhes pra dentro de mim!