ONDE NASCE A POESIA

Enchi a mala de versos e ganhei a estrada
Parti em busca do sonho de todo o poeta:
"Encontrar o lugar onde nasceu a poesia".

Cruzei sangas, me fiz rio, ganhei o mar,

Naveguei oceanos em barcos de papel
Venci as cachoeiras das tintas dos tinteiros
Penerei, por farra, toda a areia dos desertos,
Fui madeireiro e, de machado em punho,
Abri clareiras nas florestas mais cerradas
Ganhei o nada na intenção de ter o tudo;

Voei, tão alto, bem mais alto que podia
Por entre as nuvens, vi o sol brilhar de cima,
Pintei de rimas cada estrela que caía,
Por ironia, em preto e branco o meu retrato;

Busquei o fato onde haviam só rumores
Morri de amores pra renascer em poesia...
Troquei o dia pelas noites mal dormidas
Fui despedidas contra o brilho das chegadas...

Domei os ventos na intenção dos temporais
Tornei possível os impossíveis reencontros
Plantei ocasos nas auroras matutinas...
Fiz vespertinas minhas dores derradeiras;

Sou a fronteira entre o certo e o errado
Fui consagrado o corpo santo da paixão
Sou a razão na plenitude do descaso
Sou eu o vaso de onde jorra a ilusão;

Voltei tão triste que chorei de alegria
Pois a poesia não tem casa nem lugar
Ela habita o inconsciente dos poetas
Tem hora certa pra enfim se derramar...

sábado, 17 de outubro de 2009

INVENTÁRIO

INVENTÁRIO


Foram tantos os cavalos que amansei
para os outros, na campeira serventia...
E hoje, velho, vejo que nunca juntei
nem migalhas do que foi minha fatia!

Minhas pilchas - vi o tempo a descosê-las...
Meus pelegos não aguentam invernias!
E, da noite, só me resta um par de estrelas
a esporear minhas antigas nostalgias...

Para os meus, eu deixo um lote de esperanças
inventário de ilusões e de utopias...
Nome honrado há de ficar na minha herança
só que, hoje, já não sei se tem valia!

Deixo ainda, para os filhos, para os netos
a altivez que a minha estampa definia,
os valores de um campeiro analfabeto
e a coragem de buscar o que queria!

Experiência, cada qual conquista a sua;
se eu deixasse, muito pouco valeria...
Mas o amor pela querência perpetua
o atavismo que eu carrego como guia!

Inventário de princípios e de anseios...
Não há campos, nem cavalo ou gadaria...
Um chapéu, um velho poncho, um par de arreios,
Fé e coragem renascendo a cada dia!

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