ONDE NASCE A POESIA

Enchi a mala de versos e ganhei a estrada
Parti em busca do sonho de todo o poeta:
"Encontrar o lugar onde nasceu a poesia".

Cruzei sangas, me fiz rio, ganhei o mar,

Naveguei oceanos em barcos de papel
Venci as cachoeiras das tintas dos tinteiros
Penerei, por farra, toda a areia dos desertos,
Fui madeireiro e, de machado em punho,
Abri clareiras nas florestas mais cerradas
Ganhei o nada na intenção de ter o tudo;

Voei, tão alto, bem mais alto que podia
Por entre as nuvens, vi o sol brilhar de cima,
Pintei de rimas cada estrela que caía,
Por ironia, em preto e branco o meu retrato;

Busquei o fato onde haviam só rumores
Morri de amores pra renascer em poesia...
Troquei o dia pelas noites mal dormidas
Fui despedidas contra o brilho das chegadas...

Domei os ventos na intenção dos temporais
Tornei possível os impossíveis reencontros
Plantei ocasos nas auroras matutinas...
Fiz vespertinas minhas dores derradeiras;

Sou a fronteira entre o certo e o errado
Fui consagrado o corpo santo da paixão
Sou a razão na plenitude do descaso
Sou eu o vaso de onde jorra a ilusão;

Voltei tão triste que chorei de alegria
Pois a poesia não tem casa nem lugar
Ela habita o inconsciente dos poetas
Tem hora certa pra enfim se derramar...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

MADEIRA E TERRA

Eu nasci e verdeamarelei
Minha boca desdentada
Chorou na primeira porrada
Por brasileiro que sei,
Não nasci pra ser doutor
Por isso não nego a cor
Da pátria que me pariu.

Vermelha é a raiva que sinto
Quando me dizem que minto
Que tenho medo do escuro
Eu quero ver um futuro
Repleto de tanta cor
Um arco-iris de amor
E a branca paz da palavra...

Eu simbolizo a essência
Daqueles que não têm nada
Sou branco, preto e cafuso
Os tons me deixam confuso
Só não engano ou iludo
Porque no fundo me sei
Um pouco dono de tudo.

Trago pulsando nas veias
Os tambores africanos;
E os candombes castelhanos
Vão cadenciando meus passos
Sou feito de couro e aço
Da santa terra, vinguei -
Eu nasci, verdeamarelei
E o Sul me leva nos braços!

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