ONDE NASCE A POESIA

Enchi a mala de versos e ganhei a estrada
Parti em busca do sonho de todo o poeta:
"Encontrar o lugar onde nasceu a poesia".

Cruzei sangas, me fiz rio, ganhei o mar,

Naveguei oceanos em barcos de papel
Venci as cachoeiras das tintas dos tinteiros
Penerei, por farra, toda a areia dos desertos,
Fui madeireiro e, de machado em punho,
Abri clareiras nas florestas mais cerradas
Ganhei o nada na intenção de ter o tudo;

Voei, tão alto, bem mais alto que podia
Por entre as nuvens, vi o sol brilhar de cima,
Pintei de rimas cada estrela que caía,
Por ironia, em preto e branco o meu retrato;

Busquei o fato onde haviam só rumores
Morri de amores pra renascer em poesia...
Troquei o dia pelas noites mal dormidas
Fui despedidas contra o brilho das chegadas...

Domei os ventos na intenção dos temporais
Tornei possível os impossíveis reencontros
Plantei ocasos nas auroras matutinas...
Fiz vespertinas minhas dores derradeiras;

Sou a fronteira entre o certo e o errado
Fui consagrado o corpo santo da paixão
Sou a razão na plenitude do descaso
Sou eu o vaso de onde jorra a ilusão;

Voltei tão triste que chorei de alegria
Pois a poesia não tem casa nem lugar
Ela habita o inconsciente dos poetas
Tem hora certa pra enfim se derramar...

sábado, 17 de outubro de 2009

Terceirinho Mixuruca na 29ª Coxilha - Pirisca matou a pau

SANGUE


O sangue é seiva que me singra em cevaduras!
Águas de mate, tardes mornas pro descanso...
É corredeira de saudade e águas puras
que, às vezes, brinca sobre a paz de algum remanso!

O sangue é sanga sinuosa que me ajuda
a decifrar muito de mim sem me falar...
Filete d’água que, por vezes, se transmuda
e vai, salgado, me fugindo pelo olhar!

O sangue é lava que me leva e que me ateia
vulcões antigos que carrego adormecidos!
O sangue é lava que me escorre pelas veias
varrendo toda a lividez dos meus sentidos!

É procedência a continuar nos descendentes,
eterna fonte a transcender vida e razão...
Um rio oculto que se espalha em afluentes
e então renasce pra pulsar no coração!

O sangue é um velho maragato que atropela
desde as batalhas ancestrais que ainda trago!
Lenço encarnado de avoengas aquarelas
da formação existencial de nosso pago!


Juca Moraes e Rodrigo Bauer

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